CCS discute impactos da inteligência artificial na Ciência
Em aula inaugural, docente do IBqM aponta riscos e benefícios da IA para pesquisa e ensino

O Centro de Ciências da Saúde (CCS) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) realizou, em 21/5, sua aula inaugural do segundo semestre de 2025. Com o tema "Desafios e oportunidades dos algoritmos de inteligência artificial na área da saúde: construindo um olhar crítico para a inovação responsável", Marcus Oliveira, docente do Instituto de Bioquímica Médica Leopoldo de Meis, discutiu sobre o papel da inteligência artificial na Universidade.
O professor iniciou sua apresentação reconhecendo o momento atual como um período de grande expectativa em torno da IA, mas alertou para a necessidade de se analisar criticamente suas implicações para a sociedade, o ensino, a pesquisa e o mundo acadêmico. A palestra enfatizou, sobretudo, a urgência de se construir um caminho para a inovação responsável, que equilibre o potencial da IA com a necessária ponderação ética e social.
Listando uma série de aplicações práticas da IA que já impactam positivamente os laboratórios, como a criação de novos antibióticos, a observação de moléculas complexas e o estudo de doenças, desenvolvidas por empresas de tecnologia para funções específicas, Oliveira dedicou grande parte de sua exposição aos potenciais problemas associados à tecnologia.

De acordo com ele os algoritmos não são neutros e carregam consigo vieses algorítmicos que podem ampliar desigualdades sociais. Os dados mostram que o impacto será muito maior nas classes D e E que, com menor acesso à informação, tornam-se mais suscetíveis aos impactos negativos da automação no mercado de trabalho. Outros riscos destacados foram a falta de transparência nos processos de decisão da IA, onde até mesmo especialistas têm dificuldade de compreender o raciocínio artificial; a possibilidade de erros; questões de responsabilidade legal; ameaças à privacidade e a má qualidade dos dados utilizados.
O pesquisador também vinculou o avanço da IA ao aumento exponencial de artigos científicos publicados por revistas predatórias, questionando a qualidade dessa produção e alertando para uma "quantrofenia acadêmica" e uma "ciência impaciente". Oliveira relacionou a pressão por hiperprodutividade, amplificada pelas ferramentas de IA, ao aumento da carga na pós-graduação, à perda de interesse pela ciência e à epidemia de doenças psicossociais na juventude. Ele apresentou dados alarmantes, afirmando que jovens na pesquisa têm quase 2,5 vezes mais chance de desenvolver doenças mentais. O uso de IA no processo de revisão por pares (peer review) também foi apontado como uma prática que merece atenção e regulação.
Apesar dos questionamentos, Oliveira deixou claro que não é contra a tecnologia.
"Como crítico que sou, uso inteligência artificial e acho que devemos usar. Esse é um dos principais recados que deixo, principalmente para os docentes: não tem volta e nós vamos precisar utilizar no ensino, pesquisa e extensão. É uma onda que temos que surfar", declarou.