Em setembro são celebradas duas importantes datas para a comunidade de pessoas com deficiência no Brasil: o Dia Nacional de Luta da Pessoa com Deficiência (21/9) e o Dia Nacional dos Surdos (26/9). No CCS, uma iniciativa busca levar inclusão para este público por meio do conhecimento científico!

Criado por Vivian Rumjanek, professora do Instituto de Bioquímica Médica Leopoldo de Meis (IBqM), o Projeto Surdos vem desenvolvendo uma série de atividades de divulgação e letramento científico para a comunidade surda há quase 20 anos. O Laboratório Didático de Ciências para Surdos (Ladics), espaço físico do projeto, conta com servidores e estudantes dedicados a promover a inclusão.

Nuccia de Cicco foi aluna da UFRJ e trabalha como técnica-administrativa da instituição há mais de 10 anos. Uma das responsáveis pelo Ladics, a bióloga perdeu a audição durante o último ano da graduação no Instituto de Biologia e percebeu, durante a sua formação, as dificuldades que os surdos enfrentam na Universidade. Desde então, a servidora se envolveu nos projetos que buscavam promover inclusão e acessibilidade às pessoas com deficiência.

Hoje, de Cicco coordena o projeto de extensão “Ensino de Ciências para surdos: o papel do Ladics”, que promove aulas dinâmicas para alunos surdos na educação básica. Os estudantes que se destacam podem participar de estágios no laboratório e conhecer de perto a realidade da Universidade e da pesquisa científica.

“Nós queremos ensinar para os alunos as diversas etapas da Ciência. Por exemplo, estamos trabalhando no glossário do câncer. Como a célula cancerígena cresce? Como funciona a medicação? Como cultivamos a célula? A gente faz tudo isso dentro do laboratório”, explica.

Um dos estudantes impactados é Michael Soares, que está no projeto desde o ensino fundamental no Instituto Nacional de Educação de Surdos (Ines). O jovem teve aulas com de Cicco, foi estagiário no Ladics e hoje é graduando no Instituto de Biologia.

“Aprendi a gostar de Ciência no projeto, por isso decidi fazer a faculdade de Biologia. Tenho muitos sonhos para o futuro, mas o primeiro é me tornar professor e poder ensinar no Ines para outras crianças surdas”, conta o aluno.

Julya Marques também é estudante de Biologia e conheceu Michael na UFRJ. Da amizade surgiu a vontade de aprender Libras e de ingressar no Ladics para levar a Ciência para mais públicos. Autista, a jovem também sofre com as barreiras impostas na sociedade para pessoas com deficiência e acredita que a inclusão permite que todos tenham acesso aos seus direitos.

“Acho que deveríamos ter Libras como uma disciplina obrigatória na nossa formação. Quando conheci o Michael, eu vi que isso poderia não só ajudar a ele, mas a mim e a outras pessoas na Universidade”, afirma.

Novos sinais para a Ciência

Uma das iniciativas mais conhecidas do Projeto Surdos é a criação de glossários em Libras com sinais próprios para termos científicos. O Ladics já lançou edições sobre o sangue, o aedes aegypti, a embriogênese, a célula e o sistema imune. No momento, a equipe trabalha em duas novas edições: uma sobre o câncer e outra com nomes de importantes cientistas no Brasil e no mundo.

Segundo de Cicco, a criação dos glossários ajuda na formação dos estudantes e na prática nos laboratórios, além de auxiliar os intérpretes de Libras que acompanham os alunos em sala de aula. Estes profissionais, geralmente formados em Letras/Libras ou em cursos voltados para a língua, não costumam ter conhecimentos específicos nas disciplinas que acompanham, o que impacta diretamente no ensino. Muitos destes termos, inclusive, não possuíam sinais anteriormente.

“A falta de intérpretes e sua capacitação ainda é uma das principais barreiras que o surdo enfrenta na Universidade. Infelizmente, a UFRJ não tem verba para pagar os profissionais e isso impacta na formação do aluno. O glossário permite que a comunidade surda tenha mais acesso aos termos e à Ciência em si”, conclui.

O Projeto Surdos conta com diversas outras atividades. Conheça mais no Instagram e no YouTube da iniciativa!